segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

A hora do lanche

Eu não sou criatura saudosista, do tipo no-meu-tempo-tudo-era-lindo-e-melhor. Até porque não era. Mas lembranças, ninguém consegue evitar, né? Por exemplo, quando vejo isso:

Uma das maiores neuras atuais diz respeito a o que comer (como comer, onde comer, por que comer) na cada vez mais elaborada “hora do lanche”. Céus! O que as crianças comerão? Se multiplicam textos e mais textos com tabelas nutricionais, sete estações da via crucis que os pais devem percorrer para garantir que a prole roa brócolis (e seja fotografada no ato) e como sentir culpa (muita culpa) por ter permitido uma bala à descendência. O lanche é agora tema de questionamentos existenciais dignos de Nietzsche.

No século XX, coisa que sempre terminava em desastre, pra mim, era a a hora do lanche, por conta da lancheira! Pra quem não imagina o que seja, era um dispositivo assimSe a hora do recreio tivesse trilha sonora, a minha seria esta:


Eu abria minha lancheira com um pavor sobrenatural. Tudo podia acontecer. Geralmente, os líquidos mal acondicionados eram os primeiros a provocar o desastre – pois minha mãe achava que refrigerante era coisa que se mantinha bem em garrafinhas com frágeis tampinhas plásticas presas ao gargalo. Então, tudo o que era sólido não se desmanchava no ar, mas virava uma pasta bizarra. Quando passei da lancheira ao Bauzinho Primícia, a lista de micos gastronômicos variou. Você não sabe o que é um Bauzinho Primícia? 


Bom, ali dentro, além dos livros e cadernos, ia o malévolo lanche. Quando potes de iogurte Chambourcy encontravam as espirais de arame dos cadernos, meus amigos e minhas amigas, era a Faixa de Gaza no seu material escolar. Eu vivia à mercê do desgoverno de alimentos, cadernos e livros – pensando bem, a trilha sonora do recreio também poderia ser:


Ou ainda:


Pois chá com bolinho-de-chuva são coisas que lhe parecem simpáticas? Pois são, mas quando separadas. Tudo junto fica uma bosta, tenho a dizer. Biscoitos embaixo da Novíssima Gramática, de Domingos Paschoal Cegalla (439 páginas), só se fossem inalados. Mas o prêmio Sam Peckinpah do lanche escolar ficava por conta da fatia de bolo com cobertura e recheio cuidadosamente enrolada num fino guardanapo de papel...

Isso posto, o Trator quer fazer um apelo a mães, pais e gentes que escrevem sobre a alimentação na vida escolar: além da aparência, de ser saudável e o escambau, o acondicionamento do de-comer é importantíssimo! Por favor, basta de complicações escolares e alimentares!!